quarta-feira, 20 de julho de 2011

Sobre o Amor

Quando o amor o chamar, siga-o, embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe, embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;

E quando ele vos falar, acreditai nele, embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos, como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica;
e da mesma forma que ele contribui para o vosso crescimento, trabalha para vossa poda.
E da mesma forma que alcança vossa altura, e acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol, assim também desce até vossas raízes
e as sacode no seu apego à terra.

Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos penetra para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.

Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas o amor operará em vós para que conheçais os segredos de vossos corações e com esse conhecimento, vos converteis no pão místico do banquete divino.

Todavia, se no vosso temor, procurardes somente a paz no amor, o gozo do amor,
então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez e abandonásseis a ira do amor, para entrar num mundo sem estações, onde ríreis, mas não todos os vossos risos, e chorareis, mas não todas as vossas lágrimas.

O amor nada dá senão de si próprio.
O amor não possui, nem se deixa possuir, pois o amor basta-se a si mesmo.
Quando um de vós ama, que não diga: "Deus está no meu coração", mas que diga antes:
"Eu estou no coração de Deus".

E não imagineis que possais dirigir o curso do amor, pois o amor, se vos achar dignos, determinará ele próprio o vosso curso. O amor não tem outro desejo senão o de atingir sua plenitude.

Se, contudo, amardes e precisardes ter desejos, sejam estes os vossos desejos:
De vos diluirdes no amor e serdes como um riacho que canta a sua melodia para a noite.


De conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada, de ficardes ferido pela vossa própria compreensão do amor de sangrardes de boa vontade com alegria; de acordardes na aurora com o coração alado e agradecerdes por um novo dia de amor; de descansardes ao meio-dia e meditardes sobre o êxtase do amor; de voltardes para casa a noite com gratidão; e de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado, e nos lábios uma canção de bem-aventurança.

Autor: Gibran Kahlil Gibran

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