quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Terapia do luto

Sigmund Freud (1856–1939), conhecido como o pai da Psicanálise, acreditava que o luto é uma reação saudável à perda de uma pessoa querida. 

Porém, quando essa fase se transforma em melancolia (um estado psíquico profundamente doloroso), o indivíduo sente desinteresse pelo mundo externo e acha que é incapaz de realizar tarefas, além de depreciar a si mesmo. 

A terapia do luto surge, então, para ajudar a entender a perda de um ente querido como parte do ciclo da vida, sem deixar que a dor o impeça de viver.

Em geral, as pessoas estão preparadas para lidar com a morte?
Normalmente, não. Todos nós precisamos desenvolver laços afetivos para nos sentirmos protegidos, seguros e amados. Porém, a perda é angustiante, mesmo em outras situações, como o rompimento de um relacionamento, por exemplo. Esse sentimento se acentua ainda mais quando se trata da morte, pois o acontecimento é irremediável.

Existe uma maneira “ideal” de vivenciar o luto?
Lidar com a morte transforma os sobreviventes. Todas as pessoas sofrem quando perdem um ente querido, em maior ou menor grau. O importante é garantir que a adaptação ocorra de maneira saudável, ou seja, quando a pessoa é capaz de se lembrar do falecido sem choro intenso, sensação de tensão no peito ou outras manifestações físicas. 

O indivíduo continua sentindo tristeza e saudade, mas de uma forma diferente; ele readquire interesse pela vida, se sente mais esperançoso e se adapta a seu novo papel.

Há fatores que complicam o luto?
Sim. O tipo de relacionamento afetivo que a pessoa tinha com o falecido, a circunstância da morte, quando o indivíduo passou por várias perdas consecutivas, se foi uma perda múltipla, suicídio, aborto... Fatores da própria personalidade podem complicar ainda mais o processo de luto ou a ausência de uma rede social de apoio.

Podemos nos preparar para esse momento?
Não, mas a religião e a cultura na qual a pessoa está inserida influenciam na forma em que ela lidará com as perdas. Isso poderá facilitar o processo.

Em casos terminais, é possível antecipar o luto?
Quando uma pessoa querida está doente há muito tempo, passamos a ter uma consciência sobre isso e acabamos por aceitar o fato de que ela irá morrer. Por conta disso, vivemos o luto antes da hora. Mas isso não quer dizer que seja menos doloroso.

Como e onde a terapia do luto surgiu?
Este tema começou a ser abordado com frequência a partir da década de 1970, quando diversas pesquisas foram realizadas. Foi então que se identificou que o luto tem aspectos específicos que devem ser trabalhados para que o processo se complete satisfatoriamente.

Quais os conceitos da terapia do luto?
Ela pode ser vista como um processo de transição, em que o indivíduo passa a enxergar a pessoa falecida e os sobreviventes como parte do ciclo de vida e a reconhecer a finalidade da morte como a continuidade da vida. O objetivo deste tratamento é ter um espaço para que ele possa expressar seus sentimentos e sofrimentos. 

Nele, o paciente aprende a lidar com a falta da pessoa querida, reconhecer bons momentos e redescobrir a alegria e o sentido da vida. Em alguns casos, como os de pais que perdem seus filhos, por exemplo, ele contribui para que retomem o cuidado com os filhos que ficaram e ajuda a família a falar sobre a dor, mantendo a união e a transparência. 

Além de prevenir situações de perdas secundárias ao luto como, por exemplo, uma separação conjugal.

Qual a duração das sessões?
Normalmente é de 1 hora. Se feita em grupo pode levar cerca de 1h30. Em média, são necessárias de 10 a 12 sessões. Às vezes menos ou mais, isso depende de cada um.

A terapia pode ser aplicada em pessoas que têm parentes com alguma enfermidade grave?
O luto antecipado pode ser tão perturbador e doloroso para a família quanto a morte efetivamente, já que os familiares têm de lidar com uma situação de ameaça prolongada, temendo a tragédia e ao mesmo tempo lutando para manter a esperança. 

Esta situação envolve uma gama de respostas antecipadas que podem incluir ansiedade de separação, solidão, tristeza, desapontamento, raiva, ressentimento, culpa, exaustão, desespero, entre outros.

As consultas são realizadas em consultório? 
Este tipo de terapia é encontrado tanto em consultório como em instituições. Porém, existem poucos profissionais da saúde com esta especialização ou aperfeiçoamento. Vale lembrar que um psicólogo (sem esta especialização) também pode colaborar no tratamento de crises.

Busque ajuda 
Conheça algumas instituições que disponibilizam apoio psicológico para indivíduos que enfrentam o luto. 
São Paulo 
Universidade Federal de São Paulo
(11) 5084.4698 / www.unifacunifesp.com.br 
4 Estações Instituto de Psicologia  
(11)3891.2576 / www.4estacoes.com
Rio Grande do sul
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(51) 3320.3561 / www.pucrs.br
Minas Gerais
API Matriz
(31) 3282.5645 / www.redeapi.org.br

Créditos: revistavidanatural
Lucy Maira Arantes, psicoterapeuta de São Paulo. 
Imagem: Reprodução

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