sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Telas que viciam

A cena é cada vez mais comum. Em shows, em mesas de bares e restaurantes, no meio da rua. Pessoas mantêm os olhos conectados a um pequeno aparelho enquanto digitam freneticamente. O efeito é quase hipnótico, a ponto de o mundo em volta não fazer muito sentido. 

Todos os sentidos, aliás, estão concentrados na pequena luz a processar texto, imagem e som. Para muitas crianças, jovens e adultos – homens e mulheres – tornou-se um vício. Com alto potencial de risco, principalmente em meio ao trânsito, para pedestres e motoristas. 

Entre aqueles que já nasceram “plugados” em computadores, celulares, tablet, videogames etc, cresce o número de quem precisa de tratamento para livrar-se do uso obsessivo. Muitos não “desligam” e passam a sofrer transtornos físicos e psicológicos.

Desconectados do mundo real, não têm vontade de estudar e de brincar ao ar livre. No ambiente familiar, as conversas passam a ser intermediadas por telas eletrônicas. Diálogos tornam-se monossilábicos. Quando encontram amigos, a relação é mediada pelo mundo virtual. 

O assunto principal é o da tela eletrônica. Há uma urgência em fotografar o lugar, as pessoas, e enviar mensagens para amigos que fazem o mesmo de onde estão. Mundos interconectados em redes. Excesso de informação. Crianças, adolescentes e jovens – principalmente – dormem cada vez menos, o que causa danos à saúde. A mente não repousa mais, está sempre agitada. 

O uso desses aparelhos esconde riscos que precisam ter a atenção dos pais. Dos sites pornográficos aos pedófilos que buscam suas vítimas na rede, há muitos perigos. Doenças como LER – Lesão por Esforço Repetitivo – já são frequentes entre adolescentes e jovens que nem mesmo ingressaram no mundo do trabalho. E são lesões sérias que podem incapacitar. 

Nem é preciso falar nas mais comuns, como sedentarismo, obesidade, problemas de visão e isolamento social. Os pais precisam, desde cedo, estabelecer regras e negociações para o uso dessas tecnologias. 

A Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense de Pediatria afirmam que crianças de zero a dois anos não devem ter nenhuma exposição à tecnologia; crianças de três a cinco anos devem ser limitadas a uma hora de exposição por dia, e crianças e adolescentes de seis a 18 anos devem restringir-se a duas horas por dia. 

No entanto, um estudo mostrou que crianças e jovens usam de quatro a cinco vezes a quantidade de tecnologia recomendada, com consequências graves, principalmente para o aprendizado. Longe de ser uma vantagem, há um atraso no desenvolvimento cognitivo, porque os jovens não conseguem concentrar-se em nada. 

Tudo flui, delirantemente, no cérebro, como uma droga potente. A saída, como sempre, é prevenir. E usar com moderação.

Celso Vicenzi -Jornalista

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