Por
Tina Muniz
Eu, Tina Muniz, sou “Bela, Recatada e do Lar”.
Mas o que é ser bela?
O que é ser recatada?
O que é ser do lar?
Sou bela, porque assim decidi me apreciar.
Sou recatada dentro daquilo que eu acho que devo me comportar.
Sou do lar, porque eu tenho um lugar que é meu refúgio e quando
volto para casa depois de muitas horas de trabalho, ali encontro o acolhimento
e a paz para o combustível de um novo dia.
Todas nós somos belas, deixando de lado este padrão de beleza que
tanto desvalorizou a condição da mulher.
Quem é que pode dizer o que é ser recatado hoje, com tantos
padrões a seguir? E do lar?
Toda mulher é do lar, até mesmo as que trabalham fora em torno de
15 horas por dia, como eu. É do lar as mulheres que fazem triplas jornadas com
trabalho, casa e filhos, com maridos ou sem maridos.
Este lar também é uma conquista dessas mulheres que tiveram que
sair para as indústrias e sustentar seus filhos e a economia do país enquanto
os homens estavam na guerra. Foram guerreiras ao enfrentarem as propagandas
maciças do governo classificando-as como a rainha do lar, simplesmente para as
colocarem de novo na condição subserviente do estado patriarcal.
A conquista da mulher deve ser sempre pelo poder de escolha, não
pelo seguimento de padrões ditados pela ideologia do que tem que ser o
feminino.
O que se chama de liberdade sem valorização da escolha, pode enclausurar
em padrões mais devastadores do que se imagina. Hoje, muitas mulheres se sentem
ameaçadas e cobradas o tempo todo quando escolhem ficar em casa e cuidar dos
filhos. É um direito conquistado, mas emocionalmente ameaçado.
Se ela não tiver uma profissão, não é ninguém, já que o rótulo “Do
Lar” é visto por muitos como um retrocesso e a diminui como pessoa, causando
muitas vezes autoestima baixa e muitos transtornos psicoemocionais.
A nossa Ágora, as redes sociais, nos possibilita de entrarmos em
contato e fazermos rupturas culturais pela agilidade da informação, mas se
apedrejarmos a escolha do outro sem refletirmos sobre as nossas próprias
escolhas, atrasaremos o processo evolutivo da nossa cultura.
A mulher escolhe o que dá conta de ser melhor para ela,
independente da opinião alheia. Quando ela é empoderada por seu direito de
escolha, ela se agiganta em seus enfrentamentos.
Se ela escolher ficar em casa em prol dos filhos e do marido e for
apedrejada por isso, está tão presa quanto aquela que vive enclausurada contra
a sua vontade e sonha com uma vida diferente, mas ainda não teve forças para
mudar o seu padrão.
A pessoa se vê angustiada e presa na sua falta de liberdade
e escolhas e não na escolha realizada, pois se uma escolha é feita, experienciada
e puder ser livre para trocar por uma outra escolha, isso é aprendizado
existencial.
Simone de Beauvoir, feminista convicta e existencialista, amou
Sartre de uma forma de fazer inveja a mais romântica das mulheres. Simone
cuidava e lia para ele, quando seus olhos já não mais podiam ver. Simone
proporcionava a Sartre o que era mais importante para ele e isso, não
atrapalhava a sua luta em favor dos direitos das mulheres.
Simone de Beauvoir foi livre dentro de suas escolhas, inclusive da
escolha de cuidar do jeito que bem entendesse do seu homem, quem sabe até
lavando as suas cuecas. Por que não?
A mudança sempre é feita com a liberdade de escolha e lembraremos
também que:
O poder da mulher está nas escolhas dela e não na ideologia
(mentira com cara de verdade) criada para o feminino.
Texto adaptado
Tina Muniz, Psicoterapeuta Holística,
graduada em Psicologia, especialista em relacionamentos afetivos.
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