terça-feira, 23 de maio de 2017

O açúcar que você não vê

Quanto açúcar você consome por dia? Se ficou na dúvida, é melhor prestar mais atenção não só nas próximas vezes em que adoçar seu café, mas também nos doces e até nos salgados que você come. Recentemente, a OMS (Organização Mundial da Saúde) baixou a recomendação de consumo diário do alimento de 10% para 5% do total de calorias diárias, o que equivale a 100 calorias ou 25 g – em média, uma colher de sopa.

Quando estipula o índice, a OMS se refere ao chamado “free sugar”, ou açúcar de adição, justamente o que é adicionado a bebidas, receitas e produtos industrializados. Na prática, significa que, além do açúcar refinado, entram nessa lista o mascavo, de confeiteiro, orgânico e cristal, além de outros açúcares adicionados industrialmente, como a frutose do mel e dos concentrados de frutas.

De acordo com a organização, se o consumo ficar na média de 5% são evitados problemas relacionados à saúde bucal e à obesidade. “O consumo deve ser moderado, já que o açúcar é transformado em energia pelo nosso organismo. Se não for gasta, essa energia é armazenada em forma de gordura, levando a complicações bastante conhecidas”, afirma a endocrinologista Juliana Filus Coelho, da clínica Qali, de Curitiba, referindo- se a doenças como pressão alta, infartos e acidentes vasculares.

E esse alerta vale também para quem se preocupa com a dieta há tempos e não tem o hábito de consumir doces ou açúcar refinado em excesso.
A decisão de mudar o índice foi tomada justamente porque, atualmente, existe uma oferta muito grande de produtos com açúcar “escondido”, isso é, que têm a substância em sua composição apesar de não parecer. É o caso de alimentos que consumimos regularmente, como sucos de caixinha, ketchup e pão de forma, e até em alimentos considerados saudáveis, como cereais matinais e iogurtes.

Mas, antes de desistir da boa alimentação por causa do açúcar, saiba que não é qualquer tipo que faz mal. “Tubérculos e raízes, como batata, cenoura e beterraba, são fontes de açúcar, mas ao contrário do de adição, têm muitos nutrientes, vitaminas e sais”, afirma a endocrinologista Cristina Schreiber de Oliveira, do Cecem (Centro Catarinense de Endocrinologia e Metabologia). 

Podemos muito bem viver sem o açúcar do cafezinho ou dos doces em geral, mas cortar o das frutas e dos vegetais é retirar uma importante fonte de energia da dieta. Já os açúcares naturais, como o amido e a frutose –quando in natura, isso é, nas frutas-, não entram na conta da OMS porque são consumidos através de alimentos que têm vitaminas e fibras, o que torna a absorção mais lenta. Assim não há produção excessiva de insulina e há menos possibilidade de o açúcar ser armazenado como gordura. Então, fique tranquilo, eles continuam recomendados para consumo diário.

Como é sempre difícil calcular exatamente a quantidade de alimento ingerida no dia, é importante conhecer o produto que está sendo consumido para tentar manter um controle. David Alejandro González Chica, professor do departamento de nutrição da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), diz que uma forma de não perder a linha é conferindo os rótulos nas embalagens. “Os ingredientes aparecem dispostos por ordem de quantidade. Então, se o primeiro item que aparecer for açúcar, é o que tem maior porcentagem na receita.”

Fique atento aos rótulos
%VC(*) - Verifique quanto o alimento representa na porção que você pode consumir diariamente.
Porção
Preste atenção: as quantidades não são padronizadas, então fique atento à quantidade de alimento que está sendo medida.
Carboidratos
Aqui está a quantidade de açúcar do alimento. Ele também pode aparecer como: açúcares, sacarose, frutose, entre outros.
Os ingredientes aparecem dispostos por ordem de quantidade nos rótulos. O primeiro item que aparece é o que tem maior porcentagem no alimento.

Dicionário do açúcar
Glicose: é o açúcar que circula no sangue, e nossa principal fonte de energia;
Frutose: faz parte da composição das frutas e está presente no mel. Quando está in natura é uma das melhores fontes de energia, já que seu consumo vem acompanhado de vitaminas e outros nutrientes. O problema é quando está nos alimentos industrializados;

Lactose: encontrado no leite. A restrição é para os intolerantes, que não digerem a lactose e podem ter alguns problemas no sistema digestivo;
Amido: é a reserva de energia de tubérculos como batata e beterraba. Ao ser ingerido, vira glicose em nosso corpo. Geralmente fazem parte de alimentos com boa quantidade de fibras;
Sacarose: é o chamado açúcar de mesa, geralmente derivado da cana-de-açúcar. É composto de moléculas de glicose e frutose.

E se faltar?
Apesar dos alertas, eliminar todo o açúcar da dieta não é o caminho. Ele tem papel importante na alimentação, pois sua ingestão ajuda a garantir energia ao corpo. “Quando se faz uma dieta sem carboidrato –e o açúcar é fonte essencial dessa substância–, a pessoa pode sentir fadiga e dificuldade de concentração”, explica a endocrinologista Cristina da Silva Schreiber de Oliveira, do Centro Catarinense de Endocrinologia e Metabologia (Cecem). A deficiência do açúcar está relacionada até a perda de músculo, já que na falta do carboidrato a proteína é que vai ser transformada em glicose. Como sempre, o segredo está no equilíbrio.

Branco, adoçante, mascavo...
O açúcar de adição não é só o branco refinado: o mascavo e o adoçante entram nessa categoria. O primeiro é chamado de caloria pura, isento de nutrientes. No segundo, encontram-se quantidades razoáveis de cálcio, potássio, magnésio e fósforo. “Mas é importante lembrar que eles contêm a mesma quantidade de calorias e que o corpo os absorve da mesma maneira, ou seja: o excesso também pode causar problemas”, diz o endocrinologista Luiz Antônio de Araújo, da clínica Endoville, de Joinville. Já o adoçante é indicado para casos de diabetes ou para quem quer controlar a ingestão do açúcar. “Indica-se a utilização de produtos que tenham como base a sucralose e a stévia natural. O ideal é que o uso seja intercalado”, afirma Flávia.

Créditos: Revista Farmácia Angeloni

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