Quando se fala em alimentos orgânicos, a primeira coisa que
nos vem a cabeça é “alimentos cultivados sem o uso de agrotóxicos” ou
“alimentos não modificados geneticamente”. Para a agricultura orgânica, o solo é um organismo
vivo, por isto, sua saúde é a base da vitalidade das plantas.
Assim como outros
seres vivos, o solo precisa respirar (possuir espaços de ar em sua composição),
ter umidade e circulação de líquidos (ser capaz de manter e escorrer água em
sua estrutura), ter fauna e flora (bactérias, fungos, microorganismos, insetos)
e ser alimentado com equilíbrio de nutrientes. O solo é vivo e sempre em
renovação. Além disso, a agricultura orgânica (também chamada de biológica) tem
um olhar sistêmico e holístico, onde tudo se relaciona e o todo é maior do que
a soma das partes.
Numa comparação
com a saúde humana, é como alimentar-se bem, praticar esportes, ter bons
relacionamentos e prestar atenção no próprio corpo ao invés de apenas tomar um
remédio quando se está doente. Este tipo de cultivo é também uma forma de
entender e atuar no mundo e está diretamente ligado à ideia de
sustentabilidade. Busca-se sempre o aproveitamento dos recursos do próprio
sistema, a preservação ambiental e a qualidade da vida humana.
Ambiente
Tamanho - Você pretende plantar em canteiros, em vasos ou
utilizar materiais reciclados como recipientes? Qual o a profundidade e a
largura? Pense no tamanho também conforme sua disposição de trabalho.
Acesso - dê preferência à escolha de um local de fácil
acesso e protegido dos animais domésticos.
Luz - Identifique onde nasce o sol e quantas horas ele
incide no local escolhido por dia.
Água - Repare na umidade do local escolhido. Planeje ter um
regador ou recipientes para transportar água.
Vento - Repare na direção e na força do vento. Ele te
indicará, entre outros fatores, de onde virá a chuva. Ventos fortes e
frequentes podem danificar a estrutura da planta, que perderá muita energia
engrossando seu caule para evitar o balanço, ao invés de utilizar esta força
para crescer e se desenvolver. Você pode amenizar este movimento amarrando a
planta a tutores feitos com gravetos, arames ou bambu.
Materiais
Comece a montagem separando os materiais que você irá
utilizar. Materiais necessários:
Recipientes: limpe e/ou prepare o local onde irá plantar
(vasos, recipientes reciclados, jardineiras, etc.)
Plantas: sementes, mudas ou estacas das plantas que você
deseja cultivar
Subtrato: terra, composto, areia, argila expandida / cacos
de telha / madeira porosa, ou camiseta velha (para fazer uma camada de
drenagem)
Ferramentas: utilize o que você tiver em mãos para lhe
ajudar no trabalho com a terra: pá, colheres, regador, etc.
Horta Recipientes
Se for utilizar vasos prontos, dê preferência ao feitos com
barro/cerâmica aos feitos com plástico, pois preservam melhor a umidade e a
temperatura. Porém, existem diversos materiais reutilizados que funcionam bem
para o plantio doméstico, como garrafas pet, pneus, baldes, tubos de pvc,
caixas de feira ou até panelas velhas e sapatos
Dica: caso utilize vaso de cerâmica, deixe-o imerso em água
por 24h antes do plantio. Este processo de ‘cura’ faz com que o vaso não puxe
tanta água e nutrientes da terra. Em muitos casos, as raízes desenvolvem um
formato condizente com o desenho da planta que enxergamos acima do solo.
O solo
Você vai precisar recriar a estrutura do solo no recipiente
que escolheu para plantar.
Matéria orgânica: a cobertura de matéria orgânica (folhas
secas, cascas de árvore, palha), tem o papel de proteger o solo da exposição ao
sol, vento e chuva, evitando que água e nutrientes sejam perdidos através da
evaporação. Além disso, essa matéria irá se decompor em partículas menores e,
com o passar do tempo, formar a camada seguinte.
Húmus: A camada de húmus é a maior fonte de nutrientes do
solo e deve ser constantemente alimentada. É também aonde se concentram boa
parte dos microrganismos que trabalham para decompor toda a matéria orgânica
até se tornarem acessíveis às plantas através das raízes.
Areia: além de
carregar diversos minerais, tem a função de ajudar na drenagem do solo e evitar
a compactação.
Pedra: a camada de pedra tem a função de dar sustentação ao
solo e facilitar na continuação da drenagem da água.
Lençol freático: é a camada por onde a água escorre evitando
acúmulo. Faça furo no seu recipiente para imitar esta função.
O sol: é o elemento fundamental da vida
e é de onde a planta tira boa parte de seu sustento. Porém, ao longo das
estações do ano, este influencia de maneira distinta o comportamento e
metabolismo das plantas. Além disso, cada espécie tem demandas diferentes de
tempo e intensidade de exposição à luz solar.
Lua: muitas vezes escutamos que a lua altera o comportamento
da água na Terra e influencia diretamente as marés, os ciclos da mulher e até o
crescimento de nossos cabelos. De maneira ainda mais profunda, as plantas são
fortemente influenciadas pelo movimento lunar e dos outros astros próximos ao
nosso planeta. A posição da Lua pode e deve ser observada e combinada com os
momentos de plantio, colheita, poda e inclusive no transplante de uma planta
para outro vaso.
Lua nova: A seiva move-se até à base, concentrando-se na raiz.
Ideal para: colheita de raízes (cenoura, nabo, beterraba, rabanete, etc.) e
podas;
Crescente: A seiva começa a deslocar-se para cima. Ideal
para: plantar sementeiras de hortaliças de folha (couves, espinafre, alface,
etc.);
Lua cheia: A seiva movimenta-se para cima, acumulando-se nos
talos e folhas. Ideal para: colheita de frutos e hortaliças de folha;
Minguante: A seiva começa a deslocar-se para baixo,
acumulando-se na raiz. Ideal para: plantar sementeira de hortaliças de raiz
(cenoura, nabo, beterraba, rabanete, etc.) e podas.
Tudo que cresce embaixo da terra (como o alho, cenoura,
cebola, mandioca, batata e outros tubérculos) preferem ser plantados na lua
minguante. Já o que se frutifica em cima da terra, como as folhas, legumes
aéreos, milho, tomate e outros, preferem a lua crescente.
Olhando para dentro
Existem inúmeras espécies de hortaliças que você pode
cultivar com muita facilidade. Ervas, para chás e temperos, são boas opções
para começar. Frutas e legumes exigem um pouco mais de tempo e espaço.
Plantando
Semente (Ex: rolo de papel higiênico):
Quando a propagação é feita por semente, pode ser realizada
no local definitivo (direto no canteiro ou no vaso) ou em sementeiras (que
funcionam como uma maternidade, mais protegida do sol e com mais umidade), para
formar mudas que depois serão transplantadas para o local definitivo.
As sementeiras podem ser compradas ou feitas com embalagens
reutilizadas, como as caixas de ovos e rolinhos de papel higiênico dobrados na
ponta, sempre com pequenos furos no fundo para não acumular água.
Procure sempre utilizar sementes de origem conhecida e
orgânica, as chamadas sementes crioulas ou nativas. Você pode encontrar em
feiras de trocas de sementes ou retirando de alimentos orgânicos que você
consumir.
Preste atenção para não compactar a terra que for usada para
cobrir as sementes e dobre a atenção e o cuidado nos primeiros dias após a
germinação. A profundidade para colocar a semente também varia de acordo com a
espécie. Uma regrinha geral que costuma ser usada é cobrir com uma camada de
terra com 3 vezes o tamanho da semente.
Créditos: Assim que se faz |
Estaca
A maioria dos temperos podem ser propagados por estacas,
como o alecrim, o manjericão, lavanda, salvia e manjerona, além de outras
plantas como as roseiras, amoreiras e a árvore da felicidade. Neste caso, um
ramo de 10 a 15 cm deve ser retirado da planta com cuidado, as folhas da base
devem ser cortadas e esta pequena estaca deve ser colocada em solo preparado
(arenoso, sem excesso de nutrientes) e deixado em local sem luz direta e com
umidade constante até a formação de raízes. É importante que a maioria das
folhas da estaca sejam retiradas para diminuir a perda de água por evaporação.
Você também pode cortar pequenos ramos de plantas, e cultivá-los em um
recipiente com água, até que formem algumas raízes. Neste momento, ele estará
mais forte e pode ser cultivado em um pequeno vaso, tornando-se uma mudinha.
Dica: você pode favorecer este processo colocando o
recipiente para enraizamento dentro de um saco plástico, criando uma pequena
estufa.
Créditos: Geral forum |
Touceiras e rizomas
Algumas plantas se reproduzem criando brotos ao redor da
planta mãe. Este conjunto de plantas é conhecida como touceira e pode ser
reproduzida. Para isso, examine a planta em busca de brotações novas, saudáveis
e bonitas. Retire a terra ao redor das raízes e faça um corte preciso separando
o novo broto da planta mãe. Limpe as folhas e raízes secas, faça uma poda nas
folhas para reduzir a área de evaporação e enterre o novo broto em terra fofa e
rica em matéria orgânica.
Créditos: Doce quotidiano |
Rebrota
Existe ainda um outro jeito muito curioso de iniciar o
cultivo de uma planta: rebrotar. Muitos
alimentos que consumimos podem ser rebrotados. Experimente! Mas lembre-se:
alimentos orgânicos tendem a ser muito mais “vivos” e fáceis de reproduzir.
Aipo, Repolho e Alface:
1.
Separe a parte de baixo de um pé bem conservado.
Coloque em uma tigela, somente com as raízes em contato com a água.
2. Mantenha
a planta úmida borrifando água sempre que necessário e trocando a água da
tigela a cada 3 dias.
3.
Plante o broto mantendo as folhas para fora do
solo. Colha quando estiver crescida. Em média 5 meses.
Cebola
Separe cuidadosamente a parte de baixo de uma cebola
nova. Plante em solo úmido, em pouca profundidade.
Separe cuidadosamente as plantas que crescerem juntas e
mantenha regas constantes.
Corte as folhas ocasionalmente para incentivar o
crescimento da cebola. A planta estará pronta para colheita em 5 meses.
Alho
1.
Separe um dente de alho novo e grande.
2. Enterre o dente em uma vaso rico em matéria
orgânica e regue regularmente.
3. A colheita deve ser feita quando o caule
verde, após crescido, já estiver amarelando.
Batata doce
Corte a batata em 3 pedaços, deixando alguns
"olhos" em cada um e deixe-os secando em temperatura ambiente por
alguns dias. Você também pode estimular a brotação deixando a batata em pé em
um copo com metade de água.
Enterre os pedaços que tiverem brotações em terra fofa e
bem adubada.
Para colher, desenterre a planta. Você pode deixar a batata doce em um ambiente quente durante 1 semana antes de comer para aprimorar o
sabor.
Abacaxi
Retire a coroa do abacaxi com cuidado, eliminando o
excesso da fruta até visualizar a base da coroa.
Deixe a base da coroa em contato com a água durante
algumas semanas até aparecem as primeiras raízes.
A planta irá de desenvolver em alguns meses. Porém, com
este processo, a fruta só irá brotar depois do primeiro ano.
Crédcitos: Blog Cyrela |
Combinando plantas
Um outro aspecto muito interessante e que você pode
aproveitar é a associação de espécies. A variedade (biodiversidade) de uma
horta pode potencializar o crescimento de cada planta e atrair uma fauna maior,
fortalecendo o sistema como um todo. Contudo, há plantas que são companheiras,
e se ajudam trocando nutrientes e informações sobre o ambiente, e plantas
competidoras, que diputam espaço, luz, nutrientes ou mesmo produzem substâncias
que acabam agredindo outras espécies do ambiente. É importante levar isso em
consideração na hora de combinar espécies. Não existem regras claras com
relação a associação de espécies, uma vez que fatores como local, clima e solo
irão influenciar no desenvolvimento de cada planta. O ideal é experimentar e
aprender com o processo.
Enriquecer a horta com plantas aromáticas e flores pode
atrair abelhas e outros polinizadores.
Rega
É através da água que correm os nutrientes que alimentam
toda a estrutura vegetal, mas é necessário buscar o equilíbrio entre a falta e
o excesso, ambos prejudiciais. Não existem regras fixas sobre a quantidade de
água, variando de acordo com a espécie, sua estrutura, contexto e clima.
Portanto, é necessário observar como a planta responde e quais são as condições
climáticas do período. Em épocas mais quentes e secas, as regas devem ser mais
frequentes do que em período mais úmidos. Tente regar suas plantas no período
da manhã ou à noite, quando a temperatura é mais amena, evitando que a maior parte
da água evapore ou mesmo que a água gelada provoque um choque térmico nas
plantas.
Dica: para períodos em que as plantas não terão atenção
constante a dica é criar métodos caseiros de gotejamento, podendo ser
utilizadas garrafas PET com pequenos furos ou potes de barro cheios de água
enterrados ao lado das plantas.
Podas
Cortar as folhas secas, doentes ou machucadas deve ser um
processo constante para que não a planta não desperdice de energia, água e
nutrientes. Além disso, este processo ajuda na prevenção de pragas, que
costumam atacar tecidos desvitalizados, com excesso de aminoácidos livres e
açúcares solúveis que circulam na seiva.
Créditos: Mundo dos Tribos |
Adubação
Quando plantamos em recipientes isolados (vasos, canteiros),
o desenvolver das plantas acaba por esgotar os nutrientes presentes no solo.
Para fazer adubo orgânico em casa, você vai precisar:
1 lata grande furada nas laterais
2 medidas de pó de serragem
2 medidas de terra
1 e ½ medida de lixo orgânico picado (cascas de frutas,
legumes, hortaliças, etc.)
Preparação
1.
Misturar tudo na lata.
2.
Cobrir com mais de 5cm de terra; deixar a lata
sem tampa e protegida de muita chuva e muito sol, preferencialmente embaixo de
alguma árvore ou planta de grande porte.
3.
Revolver o material de 3 em 3 dias e umedecer se
preciso, durante os primeiros 30 dias.
4.
Revolver e umedecer (se necessário)
semanalmente, nos próximos 60 dias.
5.
No final de 90 dias. Estará pronto um ótimo
composto orgânico para vasos, hortas ou jardins. Não possui cheiro e nem atrai
insetos. (Oswaldo Moreno Navas)
Obs: o tempo para ter o adubo final, varia em função da quantidade de lixo usado e pela forma como a compostagem é feita. Para saber, use os sentidos: a cor é escura, o cheiro é de terra. E , quando o esfregamos nas mãos, elas não ficam sujas.
Obs: o tempo para ter o adubo final, varia em função da quantidade de lixo usado e pela forma como a compostagem é feita. Para saber, use os sentidos: a cor é escura, o cheiro é de terra. E , quando o esfregamos nas mãos, elas não ficam sujas.
Dica: não espere as plantas apresentarem fraqueza para
realizar a adubação e aproveite o momento para revirar o solo, oxigenando a
terra para evitar a compactação. Tome cuidado para não mexer no solo em contato
com as raízes.
Métodos de colheita
A colheita é um momento de suma importância em uma horta,
ajuda a renovar as folhas e traz mais vigor às plantas. Mas é interessante ter
alguns cuidados no momento de colher. Nunca dê "puxões", nem depene
sua planta de uma só vez. Colha somente o necessário, evitando causar stress à
planta ou danificar a integridade física da mesma. Cada planta exige técnicas
específicas para a colheita. Na internet você pode facilmente encontrar a mais
adequada para as plantas que cultiva, mas uma dica que serve de maneira geral é
cortar logo acima das brotações.
Pragas e doenças: Bioindicadores
Para a abordagem
orgânica de agricultura, o surgimento de uma “praga” ou “doença” é visto como
um bioindicador, pois aponta para um desequilíbrio no sistema. É importante
avaliar qual o trabalho que determinado bioindicador está desempenhando. Às
vezes, além de indicar um problema, estes podem estar trabalhando a favor da
solução. A população de formigas, por exemplo, pode crescer em um ecossistema
degradado e acabar com algumas espécies de vegetais. Ao mesmo tempo, pode
também desenvolver um importante trabalho, criando túneis que melhoram a
entrada de ar no solo, carregando minerais do subterrâneo para a superfície,
levando folhas e fungos para camadas mais profundas onde transformarão-se em
húmus.
Outras estratégias também podem ser utilizadas com bastante
êxito e sem agressividade. Plantas aromáticas, por exemplo, são muito eficazes
no controle dos insetos que são sensíveis a odores. Espalhar espécies como a
arruda, pimenta e gergelim pelos canteiros podem ajudar a manter longe alguns
insetos indesejados.
Imagens: Reprodução
Créditos: “Cartilha para plantio de pequenos jardins
urbanos” Composta São Paulo – Morada da Floresta
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