segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Como fazer uma horta orgânica em sua casa

Quando se fala em alimentos orgânicos, a primeira coisa que nos vem a cabeça é “alimentos cultivados sem o uso de agrotóxicos” ou “alimentos não modificados geneticamente”. Para a agricultura orgânica, o solo é um organismo vivo, por isto, sua saúde é a base da vitalidade das plantas. 

Assim como outros seres vivos, o solo precisa respirar (possuir espaços de ar em sua composição), ter umidade e circulação de líquidos (ser capaz de manter e escorrer água em sua estrutura), ter fauna e flora (bactérias, fungos, microorganismos, insetos) e ser alimentado com equilíbrio de nutrientes. O solo é vivo e sempre em renovação. Além disso, a agricultura orgânica (também chamada de biológica) tem um olhar sistêmico e holístico, onde tudo se relaciona e o todo é maior do que a soma das partes. 

Numa comparação com a saúde humana, é como alimentar-se bem, praticar esportes, ter bons relacionamentos e prestar atenção no próprio corpo ao invés de apenas tomar um remédio quando se está doente. Este tipo de cultivo é também uma forma de entender e atuar no mundo e está diretamente ligado à ideia de sustentabilidade. Busca-se sempre o aproveitamento dos recursos do próprio sistema, a preservação ambiental e a qualidade da vida humana.

Ambiente
Tamanho - Você pretende plantar em canteiros, em vasos ou utilizar materiais reciclados como recipientes? Qual o a profundidade e a largura? Pense no tamanho também conforme sua disposição de trabalho. 
Acesso - dê preferência à escolha de um local de fácil acesso e protegido dos animais domésticos.
Luz - Identifique onde nasce o sol e quantas horas ele incide no local escolhido por dia.

Água - Repare na umidade do local escolhido. Planeje ter um regador ou recipientes para transportar água.
Vento - Repare na direção e na força do vento. Ele te indicará, entre outros fatores, de onde virá a chuva. Ventos fortes e frequentes podem danificar a estrutura da planta, que perderá muita energia engrossando seu caule para evitar o balanço, ao invés de utilizar esta força para crescer e se desenvolver. Você pode amenizar este movimento amarrando a planta a tutores feitos com gravetos, arames ou bambu.

Materiais
Comece a montagem separando os materiais que você irá utilizar. Materiais necessários:
Recipientes: limpe e/ou prepare o local onde irá plantar (vasos, recipientes reciclados, jardineiras, etc.)
Plantas: sementes, mudas ou estacas das plantas que você deseja cultivar
Subtrato: terra, composto, areia, argila expandida / cacos de telha / madeira porosa, ou camiseta velha (para fazer uma camada de drenagem)
Ferramentas: utilize o que você tiver em mãos para lhe ajudar no trabalho com a terra: pá, colheres, regador, etc.

Horta Recipientes
Se for utilizar vasos prontos, dê preferência ao feitos com barro/cerâmica aos feitos com plástico, pois preservam melhor a umidade e a temperatura. Porém, existem diversos materiais reutilizados que funcionam bem para o plantio doméstico, como garrafas pet, pneus, baldes, tubos de pvc, caixas de feira ou até panelas velhas e sapatos
Dica: caso utilize vaso de cerâmica, deixe-o imerso em água por 24h antes do plantio. Este processo de ‘cura’ faz com que o vaso não puxe tanta água e nutrientes da terra. Em muitos casos, as raízes desenvolvem um formato condizente com o desenho da planta que enxergamos acima do solo.

O solo
Você vai precisar recriar a estrutura do solo no recipiente que escolheu para plantar.
Matéria orgânica: a cobertura de matéria orgânica (folhas secas, cascas de árvore, palha), tem o papel de proteger o solo da exposição ao sol, vento e chuva, evitando que água e nutrientes sejam perdidos através da evaporação. Além disso, essa matéria irá se decompor em partículas menores e, com o passar do tempo, formar a camada seguinte.

Húmus: A camada de húmus é a maior fonte de nutrientes do solo e deve ser constantemente alimentada. É também aonde se concentram boa parte dos microrganismos que trabalham para decompor toda a matéria orgânica até se tornarem acessíveis às plantas através das raízes.
Areia:  além de carregar diversos minerais, tem a função de ajudar na drenagem do solo e evitar a compactação.
Pedra: a camada de pedra tem a função de dar sustentação ao solo e facilitar na continuação da drenagem da água.
Lençol freático: é a camada por onde a água escorre evitando acúmulo. Faça furo no seu recipiente para imitar esta função.

Olhando para cima
O sol: é o elemento fundamental da vida e é de onde a planta tira boa parte de seu sustento. Porém, ao longo das estações do ano, este influencia de maneira distinta o comportamento e metabolismo das plantas. Além disso, cada espécie tem demandas diferentes de tempo e intensidade de exposição à luz solar.
Lua: muitas vezes escutamos que a lua altera o comportamento da água na Terra e influencia diretamente as marés, os ciclos da mulher e até o crescimento de nossos cabelos. De maneira ainda mais profunda, as plantas são fortemente influenciadas pelo movimento lunar e dos outros astros próximos ao nosso planeta. A posição da Lua pode e deve ser observada e combinada com os momentos de plantio, colheita, poda e inclusive no transplante de uma planta para outro vaso.

Lua nova: A seiva move-se até à base, concentrando-se na raiz. Ideal para: colheita de raízes (cenoura, nabo, beterraba, rabanete, etc.) e podas;
Crescente: A seiva começa a deslocar-se para cima. Ideal para: plantar sementeiras de hortaliças de folha (couves, espinafre, alface, etc.);
Lua cheia: A seiva movimenta-se para cima, acumulando-se nos talos e folhas. Ideal para: colheita de frutos e hortaliças de folha;
Minguante: A seiva começa a deslocar-se para baixo, acumulando-se na raiz. Ideal para: plantar sementeira de hortaliças de raiz (cenoura, nabo, beterraba, rabanete, etc.) e podas.
Tudo que cresce embaixo da terra (como o alho, cenoura, cebola, mandioca, batata e outros tubérculos) preferem ser plantados na lua minguante. Já o que se frutifica em cima da terra, como as folhas, legumes aéreos, milho, tomate e outros, preferem a lua crescente.

Olhando para dentro
Existem inúmeras espécies de hortaliças que você pode cultivar com muita facilidade. Ervas, para chás e temperos, são boas opções para começar. Frutas e legumes exigem um pouco mais de tempo e espaço. 


Plantando
Semente (Ex: rolo de papel higiênico):
Quando a propagação é feita por semente, pode ser realizada no local definitivo (direto no canteiro ou no vaso) ou em sementeiras (que funcionam como uma maternidade, mais protegida do sol e com mais umidade), para formar mudas que depois serão transplantadas para o local definitivo.
As sementeiras podem ser compradas ou feitas com embalagens reutilizadas, como as caixas de ovos e rolinhos de papel higiênico dobrados na ponta, sempre com pequenos furos no fundo para não acumular água.

Procure sempre utilizar sementes de origem conhecida e orgânica, as chamadas sementes crioulas ou nativas. Você pode encontrar em feiras de trocas de sementes ou retirando de alimentos orgânicos que você consumir.
Preste atenção para não compactar a terra que for usada para cobrir as sementes e dobre a atenção e o cuidado nos primeiros dias após a germinação. A profundidade para colocar a semente também varia de acordo com a espécie. Uma regrinha geral que costuma ser usada é cobrir com uma camada de terra com 3 vezes o tamanho da semente.

Créditos: Assim que se faz
Estaca
A maioria dos temperos podem ser propagados por estacas, como o alecrim, o manjericão, lavanda, salvia e manjerona, além de outras plantas como as roseiras, amoreiras e a árvore da felicidade. Neste caso, um ramo de 10 a 15 cm deve ser retirado da planta com cuidado, as folhas da base devem ser cortadas e esta pequena estaca deve ser colocada em solo preparado (arenoso, sem excesso de nutrientes) e deixado em local sem luz direta e com umidade constante até a formação de raízes. É importante que a maioria das folhas da estaca sejam retiradas para diminuir a perda de água por evaporação. Você também pode cortar pequenos ramos de plantas, e cultivá-los em um recipiente com água, até que formem algumas raízes. Neste momento, ele estará mais forte e pode ser cultivado em um pequeno vaso, tornando-se uma mudinha.

Dica: você pode favorecer este processo colocando o recipiente para enraizamento dentro de um saco plástico, criando uma pequena estufa.

Créditos: Geral forum
Touceiras e rizomas
Algumas plantas se reproduzem criando brotos ao redor da planta mãe. Este conjunto de plantas é conhecida como touceira e pode ser reproduzida. Para isso, examine a planta em busca de brotações novas, saudáveis e bonitas. Retire a terra ao redor das raízes e faça um corte preciso separando o novo broto da planta mãe. Limpe as folhas e raízes secas, faça uma poda nas folhas para reduzir a área de evaporação e enterre o novo broto em terra fofa e rica em matéria orgânica.






Créditos: Doce quotidiano
Rebrota
Existe ainda um outro jeito muito curioso de iniciar o cultivo de uma planta:  rebrotar. Muitos alimentos que consumimos podem ser rebrotados. Experimente! Mas lembre-se: alimentos orgânicos tendem a ser muito mais “vivos” e fáceis de reproduzir.
Aipo, Repolho e Alface:
1.       Separe a parte de baixo de um pé bem conservado. Coloque em uma tigela, somente com as raízes em contato com a água.
2.      Mantenha a planta úmida borrifando água sempre que necessário e trocando a água da tigela a cada 3 dias.
3.       Plante o broto mantendo as folhas para fora do solo. Colha quando estiver crescida. Em média 5 meses.

Cebola
Separe cuidadosamente a parte de baixo de uma cebola nova. Plante em solo úmido, em pouca profundidade.
Separe cuidadosamente as plantas que crescerem juntas e mantenha regas constantes.
Corte as folhas ocasionalmente para incentivar o crescimento da cebola. A planta estará pronta para colheita em 5 meses.
Alho
1.       Separe um dente de alho novo e grande. 
2.     Enterre o dente em uma vaso rico em matéria orgânica e regue regularmente.
3.     A colheita deve ser feita quando o caule verde, após crescido, já estiver amarelando.

Batata doce
Corte a batata em 3 pedaços, deixando alguns "olhos" em cada um e deixe-os secando em temperatura ambiente por alguns dias. Você também pode estimular a brotação deixando a batata em pé em um copo com metade de água.
Enterre os pedaços que tiverem brotações em terra fofa e bem adubada.
Para colher, desenterre a planta. Você pode deixar a batata doce em um ambiente quente durante 1 semana antes de comer para aprimorar o sabor.
Abacaxi
Retire a coroa do abacaxi com cuidado, eliminando o excesso da fruta até visualizar a base da coroa.
Deixe a base da coroa em contato com a água durante algumas semanas até aparecem as primeiras raízes.
A planta irá de desenvolver em alguns meses. Porém, com este processo, a fruta só irá brotar depois do primeiro ano.

Crédcitos: Blog Cyrela
Combinando plantas
Um outro aspecto muito interessante e que você pode aproveitar é a associação de espécies. A variedade (biodiversidade) de uma horta pode potencializar o crescimento de cada planta e atrair uma fauna maior, fortalecendo o sistema como um todo. Contudo, há plantas que são companheiras, e se ajudam trocando nutrientes e informações sobre o ambiente, e plantas competidoras, que diputam espaço, luz, nutrientes ou mesmo produzem substâncias que acabam agredindo outras espécies do ambiente. É importante levar isso em consideração na hora de combinar espécies. Não existem regras claras com relação a associação de espécies, uma vez que fatores como local, clima e solo irão influenciar no desenvolvimento de cada planta. O ideal é experimentar e aprender com o processo.
Enriquecer a horta com plantas aromáticas e flores pode atrair abelhas e outros polinizadores.

Rega
É através da água que correm os nutrientes que alimentam toda a estrutura vegetal, mas é necessário buscar o equilíbrio entre a falta e o excesso, ambos prejudiciais. Não existem regras fixas sobre a quantidade de água, variando de acordo com a espécie, sua estrutura, contexto e clima. Portanto, é necessário observar como a planta responde e quais são as condições climáticas do período. Em épocas mais quentes e secas, as regas devem ser mais frequentes do que em período mais úmidos. Tente regar suas plantas no período da manhã ou à noite, quando a temperatura é mais amena, evitando que a maior parte da água evapore ou mesmo que a água gelada provoque um choque térmico nas plantas.
Dica: para períodos em que as plantas não terão atenção constante a dica é criar métodos caseiros de gotejamento, podendo ser utilizadas garrafas PET com pequenos furos ou potes de barro cheios de água enterrados ao lado das plantas.

Podas
Cortar as folhas secas, doentes ou machucadas deve ser um processo constante para que não a planta não desperdice de energia, água e nutrientes. Além disso, este processo ajuda na prevenção de pragas, que costumam atacar tecidos desvitalizados, com excesso de aminoácidos livres e açúcares solúveis que circulam na seiva.

Créditos: Mundo dos Tribos
Adubação
Quando plantamos em recipientes isolados (vasos, canteiros), o desenvolver das plantas acaba por esgotar os nutrientes presentes no solo.

Para fazer adubo orgânico em casa, você vai precisar:
1 lata grande furada nas laterais
2 medidas de pó de serragem
2 medidas de terra
1 e ½ medida de lixo orgânico picado (cascas de frutas, legumes, hortaliças, etc.)

Preparação
1.       Misturar tudo na lata.
2.       Cobrir com mais de 5cm de terra; deixar a lata sem tampa e protegida de muita chuva e muito sol, preferencialmente embaixo de alguma árvore ou planta de grande porte.
3.       Revolver o material de 3 em 3 dias e umedecer se preciso, durante os primeiros 30 dias.
4.       Revolver e umedecer (se necessário) semanalmente, nos próximos 60 dias.
5.       No final de 90 dias. Estará pronto um ótimo composto orgânico para vasos, hortas ou jardins. Não possui cheiro e nem atrai insetos. (Oswaldo Moreno Navas)

Obs: o tempo para ter o adubo final, varia em função da quantidade de lixo usado e pela forma como a compostagem é feita. Para saber, use os sentidos: a cor é escura, o cheiro é de terra. E , quando o esfregamos nas mãos, elas não ficam sujas.
Dica: não espere as plantas apresentarem fraqueza para realizar a adubação e aproveite o momento para revirar o solo, oxigenando a terra para evitar a compactação. Tome cuidado para não mexer no solo em contato com as raízes.

Métodos de colheita
A colheita é um momento de suma importância em uma horta, ajuda a renovar as folhas e traz mais vigor às plantas. Mas é interessante ter alguns cuidados no momento de colher. Nunca dê "puxões", nem depene sua planta de uma só vez. Colha somente o necessário, evitando causar stress à planta ou danificar a integridade física da mesma. Cada planta exige técnicas específicas para a colheita. Na internet você pode facilmente encontrar a mais adequada para as plantas que cultiva, mas uma dica que serve de maneira geral é cortar logo acima das brotações.

Pragas e doenças: Bioindicadores
Para a abordagem orgânica de agricultura, o surgimento de uma “praga” ou “doença” é visto como um bioindicador, pois aponta para um desequilíbrio no sistema. É importante avaliar qual o trabalho que determinado bioindicador está desempenhando. Às vezes, além de indicar um problema, estes podem estar trabalhando a favor da solução. A população de formigas, por exemplo, pode crescer em um ecossistema degradado e acabar com algumas espécies de vegetais. Ao mesmo tempo, pode também desenvolver um importante trabalho, criando túneis que melhoram a entrada de ar no solo, carregando minerais do subterrâneo para a superfície, levando folhas e fungos para camadas mais profundas onde transformarão-se em húmus.

Outras estratégias também podem ser utilizadas com bastante êxito e sem agressividade. Plantas aromáticas, por exemplo, são muito eficazes no controle dos insetos que são sensíveis a odores. Espalhar espécies como a arruda, pimenta e gergelim pelos canteiros podem ajudar a manter longe alguns insetos indesejados.

Imagens: Reprodução
Créditos: “Cartilha para plantio de pequenos jardins urbanos” Composta São Paulo – Morada da Floresta 

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