segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Glúten – vamos estudar um pouco sobre ele?

Por Flávio Passos

Uma das coisas que mais me impressionou em meus estudos sobre o glúten foi a constatação de que seus efeitos no cérebro são comparáveis aos de drogas de alto grau de dependência - como a heroína.

Esse é um dos principais desafios para quem busca evitar alimentos de trigo.

Da mesma forma como o açúcar, o trigo é viciante. Quanto mais você come, mais tem vontade de comer. É um ciclo vicioso.

Isto significa que a recomendação correta é que todos os indivíduos deixem de comer alimentos que contem glúten?

Não.

Não é bem assim. Nada é absoluto no território da nutrição, e, como se diz na prática clínica, a individualidade é soberana.

Isto significa que não existe só preto e branco. Existem vários tons de cinza entre as duas cores.

Ou seja: para alguns o glúten é um veneno. É o caso dos celíacos, que são incapazes de processar sequer partículas infinitesimais de glúten que ficaram como resíduo em um utensílio que foi usado para preparar um prato com glúten.

Para outros, o glúten é um alimento muito bem tolerado. Em geral são pessoas com ótima digestão.

E para a maioria das pessoas, a relação com o glúten é intermediária: não é nem um veneno e nem um ótimo alimento.

A lista de sintomas conhecidos e associados à intolerância ao glúten é grande...
·         Perda ou ganho de peso crônicos
·         Deficiências nutricionais resultantes de má absorção (ex: deficiência de ferro)
·         Problemas gastrointestinais (inchaço abdominal, dor, gases, constipação, diarréia - sintomas mais comuns)  
·         Gordura nas fezes (devido à má digestão)
·         Dores nas articulações
·         Depressão
·         Eczema e dermatites diversas (descamação nas mãos e dedos, por exemplo)
·         Enxaqueca
·         Exaustão crônica
·         Irritabilidade e mudanças comportamentais
·         Infertilidade, irregularidade do ciclo menstrual, aborto espontâneo
·         Cãibras, coceiras e perda de sensibilidade na pele
·         Crescimento reduzido (em bebês e crianças)
·         Declínio na saúde dental

A lista é extensa. A causa primária da maioria deles é uma irritação crônica das mucosas intestinais por recorrente exposição à substância que ele não consegue processar adequadamente.

Com o tempo, é grande a chance do surgimento da chamada "leaky gut syndrome", que é um desequilíbrio na permeabilidade seletiva dos intestinos.

Na prática, os intestinos perdem a capacidade de selecionar o que entra ou não na corrente sanguínea, e moléculas que não deveriam acabam "vazando" para onde podem causar reações do sistema imune.

E acontece que muitos sofrem com os sintomas, buscando medicamentos e tratamentos, sem saber que o pãozinho de cada dia está realmente subtraindo muito de sua qualidade de vida.

Mas sabemos que a maior dificuldade da medicina é o diagnóstico.
Existem testes com maior ou menor precisão para detectar as reações do organismo ao trigo, mas a maior parte das pessoas não os realizam por alguns motivos... Desde o preconceito da classe médica em associar alimentação com saúde (sim, isto ainda existe) até a falta de compreensão de que alguns sintomas são construídos através de hábitos repetitivos.

Os maiores problemas em relação ao Glúten são aqueles que não se manifestam de imediato.

Cerca de 75% das pessoas intolerantes não demonstram qualquer sintoma aparente de algo que com o tempo e o consumo frequente pode vir a se tornar uma doença autoimune, um dano permanente no sistema nervoso e, no pior cenário, até um câncer de cólon.

Algumas destas condições desenvolvem-se silenciosamente sem sintomas iniciais de fácil identificação.

Bem, acredito que a lista de motivos e argumentos que foram apresentados deve ser suficiente para te fazer pesquisar mais sobre sua própria capacidade digestiva, ou mesmo fazer desde já um experimento de ficar 30 dias sem comer nada que contenha glúten para verificar como você se sente.

Ou mesmo deixar de ter o glúten como parte da sua alimentação diária, reservado-o para ocasiões.

Mas isso pode ser um pouco desafiador, visto que estamos tão acostumados a consumir pães, massas e outros derivados do trigo - maior fonte de glúten da atualidade.
Sobre isto, trago boas notícias!

Na última década a gastronomia gluten-free evoluiu muito.

Com a descoberta de novos ingredientes na culinária e a evolução das técnicas de preparo de alimentos, é perfeitamente possível obter os mesmos efeitos do glúten nos alimentos que tanto gostamos: pães, massas, pizzas.
Com a substituição e combinação correta de farinhas e alguns outros ingredientes no preparo dos nossos alimentos, é possível criar receitas tão boas quanto ou até melhores do que as tradicionais!

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