quarta-feira, 16 de março de 2016

Beleza irreal virtual

O que pretendemos de fato quando nos esforçamos tanto para construir uma imagem exterior? Ana Cristina Koda

Por Flávia Neves
Acredite, mas houve um tempo em que mulher bonita e sexy era aquela considerada gorda, cheinha, já que isso era um sinal de saúde e fertilidade. Os estudiosos garantem que, até hoje, quando um homem se interessa por uma mulher, ele, instintivamente, vê nela a possibilidade de gerar filhos saudáveis e, assim, propagar os seus genes.
Imagem: TecMundo

Das mulheres rechonchudas dos retratos pintados pelos artistas do Renascimento, passando pelas sensuais figuras femininas dos cartazes Art Nouveau no final do século XIX, até chegarmos aos conceitos de beleza feminina atuais, vemos que sempre existiram padrões de beleza para as mulheres e que eles foram sendo alterados à medida que as relações sociais, os estilos de vida e a tecnologia mudaram.

No nosso tempo, as mulheres dos anúncios publicitários e das capas de revistas padronizam o ideal de beleza feminina que é desejado pelos homens e almejado pelas mulheres. O estereótipo de beleza da mulher está na mídia.
É curioso perceber que essas mulheres “padrão” estão tanto nas capas das revistas voltadas ao público masculino quanto naquelas direcionadas ao público feminino. Enquanto o homem deseja o mulherão da capa, a mulher quer ser aquele mulherão. É a normatização da beleza.
Imagem: Reprodução


Mas, essa mulher da capa é real? A pele uniforme, a barriga lisinha e o rosto perfeito da foto existem graças à maquiagem, aos truques de luz da fotografia e, principalmente, ao Photoshop, o famoso editor de imagens que é muito usado para, literalmente, moldar o rosto e o corpo da pessoa fotografada, corrigindo imperfeições e acentuando características físicas ideais. Ou seja, o Photoshop virou a ferramenta símbolo da padronização do estereótipo de beleza feminina que temos.
Imagem: Reprodução


Mas eu acredito que a facilidade trazida pelo Photoshop para corrigir imperfeições físicas da pessoa fotografada tem sido usada de maneira a criar figuras enganosas, em especial nas mulheres. Isso propaga ideais de beleza feminina utópicos e inatingíveis, o que resulta em uma legião de mulheres frustradas com seus corpos e paranóicas atrás de um padrão de beleza irreal.
Imagem: TecMundo

E existe toda uma indústria que vive desta paranóia através das revistas de beleza, das fórmulas infalíveis de emagrecimento, dos tratamentos estéticos, etc. Esses padrões estéticos acabam se refletindo em outras questões sociais, já que estar acima do peso, ou gorda, é visto por muitas pessoas como desleixo, preguiça, indisciplina, falta de vaidade. Sendo assim, a obesidade também é condenada moralmente.
Imagem: TecMundo
Como são um reflexo das nossas relações sociais, os padrões de beleza da mulher que vemos na mídia refletem a forma com que as mulheres brasileiras encaram, por exemplo, o envelhecimento, tentando negar a passagem do tempo numa eterna busca da fonte da juventude. Algumas fotos da atriz Suzana Vieira na revista “Quem’ viraram exemplos ridicularizados do uso banalizado do Photoshop na “correção” dessas fotos. É só comparar as fotos da revista com algumas fotos da atriz na praia, de biquini. Na revista, a pele lisa e uniforme da atriz é totalmente diferente da realidade.

A paranóia criada por essa busca pela beleza ideal traz problemas psicológicos e físicos como a anorexia e a bulimia, distúrbios alimentares que já são considerados, em muitos países, como problemas de saúde pública.
Uma matéria na revista norte-americana “Glamour” falava sobre a mulher estar bem consigo mesma e foi ilustrada com uma foto que provocou uma enxurrada de e-mails de felicitação enviados à editoria da revista. A foto mostrava uma mulher “normal”, sem correções no Photoshop e exibindo uma barriguinha saliente.
As leitoras da revista se sentiram imensamente felizes por verem uma mulher “normal” como elas na revista, ou seja, alguém com quem elas se identificaram fisicamente, o que raramente acontece. A modelo da foto, que ficou conhecida como “a garota da página 194”, é considerada uma modelo GG por vestir manequim 40, o que, convenhamos, é a média do que veste a mulher brasileira que (ainda) não é considerada gorda.



Texto adaptado
Créditos: Quintal Virtual

Um comentário:

  1. Ha algum tempo ja penso assim minh amiga, acredito que a beleza também vem de dentro, muita preocupação com o exterior,nos tira a atenção do essencial...linda materia. bjo

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