Segundo os japoneses, todo mundo possui um ikigai, o que um
filósofo francês traduziria como raison d’être, razão de ser.
Alguns
encontraram seu ikigai e têm consciência dele, outros o carregam dentro de si,
mas ainda o procuram.
De acordo com os nativos
de Okinawa, maior ilha de
um arquipélago subtropical,
onde
vivem as mulheres mais velhas do planeta, o ikigai é a razão pela qual
nos levantamos pela manhã.
Uma das coisas mais surpreendentes de se notar ao viver por
algum tempo no Japão é como as pessoas continuam ativas, inclusive depois de se
aposentarem.
Na verdade, um grande número de japoneses nunca se “aposenta”, mas
sim segue trabalhando naquilo de que gosta, a menos que a saúde não permita.
Não existe na língua japonesa uma palavra que
signifique “aposentar-se” no sentido de “retirar-se para sempre”, como temos no
Ocidente.
Tal como afirma Jan Buettner, jornalista da National Geographic que
conhece bem o país nipônico, “ter um propósito é tão importante nessa cultura
que eles não têm nosso conceito de aposentadoria”.
Alguns estudos sobre a longevidade sugerem que ter uma vida
em comunidade e um ikigai claro é tão ou mais importante do que a saudável
dieta japonesa.
Essa ilha tem o maior índice do planeta de pessoas com mais
de cem anos por cem mil habitantes.
As pesquisas médicas que estão sendo
desenvolvidas lá proporcionaram muitos dados interessantes a respeito das
características desses seres humanos extraordinários:
Além de viverem muito mais que o restante da população
mundial, é menor o seu histórico de doenças crônicas como câncer ou patologias
cardíacas; enfermidades inflamatórias também são menos comuns.
Há um grande número
de centenários com um nível de vitalidade invejável e um estado de saúde que
seria impensável para anciãos de outras localidades.
Seu sangue apresenta um
nível mais baixo de radicais livres, que são os responsáveis pelo
envelhecimento celular, graças à cultura do chá e ao costume de se alimentar
apenas até saciar 80% do estômago.
A menopausa é muito mais suave e, de maneira
geral, homens e mulheres mantêm um nível elevado de hormônios sexuais até
idades muito avançadas.
O índice de casos de demência é notavelmente mais baixo
do que a média da população mundial.
As cinco zonas azuis.
Assim são denominadas pelos cientistas
e demógrafos as regiões em que há muitos casos de longevidade.
A primeira
dessas cinco zonas é Okinawa, no Japão, onde sobretudo as mulheres têm a
existência mais longa — e sem doenças — do mundo. As cinco regiões
identificadas e analisadas por Buettner em um de seus livros sobre as zonas
azuis são:
Okinawa, Japão (sobretudo, o norte da ilha). A dieta da
região inclui muitas verduras e tofu.
Seus habitantes comem em pratos pequenos.
Em sua expectativa de vida, além da filosofia ikigai, é importante o conceito
de “moai” (grupo de amigos muito próximos).
Sardenha, Itália (especificamente as províncias de Nuoro
e Ogliastra).
Seus habitantes consomem muitas verduras e vinho.
Trata-se de
comunidades muito unidas, o que exerce grande influência na longevidade.
Loma Linda, Califórnia. Os pesquisadores estudaram um
grupo de adventistas do sétimo dia que estão entre os mais longevos dos Estados
Unidos.
Península de Nicoya, Costa Rica. Muitos nativos passam
dos noventa anos com uma vitalidade admirável.
Grande parte dos anciãos se
levanta às 5h30, sem grandes dificuldades, para trabalhar no campo.
Icária, Grécia. Um em cada três habitantes dessa ilha
próxima à costa turca tem mais de noventa anos, o que lhe valeu o apelido de “a
ilha da longevidade”.
(Para se ter uma ideia, segundo dados de 2016 do IBGE, os
nonagenários não chegavam a 0,5% da população brasileira).
Ao que parece, o
segredo dos nativos remonta a um estilo de vida existente desde o ano 500 a.C.
Segundo os cientistas que compararam a vida nas cinco zonas
azuis, os segredos para uma vida longa são a dieta, o exercício, ter um
propósito (um ikigai) e boas ligações sociais, ou seja, muitos amigos e boas
relações na família.
Essas comunidades administram bem o seu tempo para reduzir o
estresse, comem pouca carne e alimentos processados e ingerem álcool com
moderação.
Os exercícios praticados por seus integrantes não são
extremos, mas eles se movimentam todos os dias para passear ou ir à horta.
Os
habitantes das zonas azuis preferem caminhar a usar um carro. Em todas elas, é
muito comum a prática da jardinagem, que requer movimento físico diário, mas de
baixa intensidade.
O segredo dos 80%. Um dos provérbios mais populares em
Okinawa é Hara hachibu, que significa algo como “A barriga a 80%” e é dito
antes e depois das refeições.
A sabedoria ancestral recomenda não comer até
ficar cheio. Por isso, em vez de se saciarem, obrigando o corpo a se desgastar
e acelerando a oxidação celular com uma longa digestão, os nativos param de
comer quando sentem que seu estômago está 80% cheio.
A dieta deles é rica em tofu, batata-doce, peixe (três vezes
por semana) e muitas verduras (trezentos gramas por dia).
Os sentimentos de pertencimento e de ajuda mútua dão
segurança ao indivíduo e contribuem para o aumento de sua expectativa de vida.
Referência bibliográfica
Garcia, Héctor
Ikigai : os segredos dos japoneses para uma vida longa e
feliz/ Héctor García, Francesc Miralles ; tradução Elisa Menezes. – 1. ed. –
Rio de Janeiro : Intrínseca, 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário