segunda-feira, 3 de setembro de 2018

A arte de envelhecer sempre jovem

Segundo os japoneses, todo mundo possui um ikigai, o que um filósofo francês traduziria como raison d’être, razão de ser. 

Alguns encontraram seu ikigai e têm consciência dele, outros o carregam dentro de si, mas ainda o procuram.

De acordo com os nativos de Okinawa, maior ilha de um arquipélago subtropical,
onde vivem as mulheres mais velhas do planeta, o ikigai é a razão pela qual nos levantamos pela manhã.

Uma das coisas mais surpreendentes de se notar ao viver por algum tempo no Japão é como as pessoas continuam ativas, inclusive depois de se aposentarem. 

Na verdade, um grande número de japoneses nunca se “aposenta”, mas sim segue trabalhando naquilo de que gosta, a menos que a saúde não permita.

Não existe na língua japonesa uma palavra que signifique “aposentar-se” no sentido de “retirar-se para sempre”, como temos no Ocidente. 

Tal como afirma Jan Buettner, jornalista da National Geographic que conhece bem o país nipônico, “ter um propósito é tão importante nessa cultura que eles não têm nosso conceito de aposentadoria”.

Alguns estudos sobre a longevidade sugerem que ter uma vida em comunidade e um ikigai claro é tão ou mais importante do que a saudável dieta japonesa.

Essa ilha tem o maior índice do planeta de pessoas com mais de cem anos por cem mil habitantes. 

As pesquisas médicas que estão sendo desenvolvidas lá proporcionaram muitos dados interessantes a respeito das características desses seres humanos extraordinários:

Além de viverem muito mais que o restante da população mundial, é menor o seu histórico de doenças crônicas como câncer ou patologias cardíacas; enfermidades inflamatórias também são menos comuns. 

Há um grande número de centenários com um nível de vitalidade invejável e um estado de saúde que seria impensável para anciãos de outras localidades. 

Seu sangue apresenta um nível mais baixo de radicais livres, que são os responsáveis pelo envelhecimento celular, graças à cultura do chá e ao costume de se alimentar apenas até saciar 80% do estômago. 

A menopausa é muito mais suave e, de maneira geral, homens e mulheres mantêm um nível elevado de hormônios sexuais até idades muito avançadas. 

O índice de casos de demência é notavelmente mais baixo do que a média da população mundial.

As cinco zonas azuis. 

Assim são denominadas pelos cientistas e demógrafos as regiões em que há muitos casos de longevidade. 

A primeira dessas cinco zonas é Okinawa, no Japão, onde sobretudo as mulheres têm a existência mais longa — e sem doenças — do mundo. As cinco regiões identificadas e analisadas por Buettner em um de seus livros sobre as zonas azuis são:

Okinawa, Japão (sobretudo, o norte da ilha). A dieta da região inclui muitas verduras e tofu. 

Seus habitantes comem em pratos pequenos. 

Em sua expectativa de vida, além da filosofia ikigai, é importante o conceito de “moai” (grupo de amigos muito próximos). 

Sardenha, Itália (especificamente as províncias de Nuoro e Ogliastra). 

Seus habitantes consomem muitas verduras e vinho. 

Trata-se de comunidades muito unidas, o que exerce grande influência na longevidade. 

Loma Linda, Califórnia. Os pesquisadores estudaram um grupo de adventistas do sétimo dia que estão entre os mais longevos dos Estados Unidos. 

Península de Nicoya, Costa Rica. Muitos nativos passam dos noventa anos com uma vitalidade admirável. 

Grande parte dos anciãos se levanta às 5h30, sem grandes dificuldades, para trabalhar no campo. 

Icária, Grécia. Um em cada três habitantes dessa ilha próxima à costa turca tem mais de noventa anos, o que lhe valeu o apelido de “a ilha da longevidade”. 

(Para se ter uma ideia, segundo dados de 2016 do IBGE, os nonagenários não chegavam a 0,5% da população brasileira). 

Ao que parece, o segredo dos nativos remonta a um estilo de vida existente desde o ano 500 a.C.

Segundo os cientistas que compararam a vida nas cinco zonas azuis, os segredos para uma vida longa são a dieta, o exercício, ter um propósito (um ikigai) e boas ligações sociais, ou seja, muitos amigos e boas relações na família.

Essas comunidades administram bem o seu tempo para reduzir o estresse, comem pouca carne e alimentos processados e ingerem álcool com moderação.

Os exercícios praticados por seus integrantes não são extremos, mas eles se movimentam todos os dias para passear ou ir à horta. 

Os habitantes das zonas azuis preferem caminhar a usar um carro. Em todas elas, é muito comum a prática da jardinagem, que requer movimento físico diário, mas de baixa intensidade.

O segredo dos 80%. Um dos provérbios mais populares em Okinawa é Hara hachibu, que significa algo como “A barriga a 80%” e é dito antes e depois das refeições. 

A sabedoria ancestral recomenda não comer até ficar cheio. Por isso, em vez de se saciarem, obrigando o corpo a se desgastar e acelerando a oxidação celular com uma longa digestão, os nativos param de comer quando sentem que seu estômago está 80% cheio.

A dieta deles é rica em tofu, batata-doce, peixe (três vezes por semana) e muitas verduras (trezentos gramas por dia).

Os sentimentos de pertencimento e de ajuda mútua dão segurança ao indivíduo e contribuem para o aumento de sua expectativa de vida.

Referência bibliográfica
Garcia, Héctor
Ikigai : os segredos dos japoneses para uma vida longa e feliz/ Héctor García, Francesc Miralles ; tradução Elisa Menezes. – 1. ed. – Rio de Janeiro : Intrínseca, 2018.

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